“Conhecido mundialmente como o pai da dança Buto, juntamente com Tatsumi Hijikata (morto em 1986), Kazuo Ohno nasceu em 1906 na cidade de Hakodate, Hokkaido-Japão. Partiu para o caminho da dança quando em 1929 viu pela primeira vez, em Tóquio, a bailarina espanhola, nascida na Argentina, Antônia Mercé (La Argentina) que o envolveu por completo, dando-lhe as primeiras impressões do renascimento da dança espanhola, e impulsionou Ohno a estudar a moderna técnica de dança de Mary Wigman, coreógrafa expressionista alemã.
Tatsumi Hijikata criou e desenvolveu ações teatrais, performáticas, na década de 40, quando o Japão do pós-guerra sofria uma invasão cultural por parte do ocidente. Foi em bares, boates, cabarés e pelas ruas do submundo de Tóquio que Hijikata dava início ao que nos anos 60, essa forma marginal de expressão, como era considerada, passara a ser chamada de Ankoku Butoh, dança das trevas. Hoje simplesmente Buto. Essa forma de expressão, nascida literalmente na sarjeta, retomou tradições antigas do Japão, técnicas de dança ocidental e, antes de tudo, a idéia quase esquecida de que o dançarino não dança para si, mas para reviver algo muito maior. De acordo com palavras do próprio Ohno, ‘Buto' é uma das mais arrojadas formas de dança contemporânea, única do Japão. Expressa ao mesmo tempo tantas idéias diferentes que é impossível defini-la. Ela somente choca e surpreende’.
Ohno busca no inconsciente comum a todo homem, oriental ou não, a beleza e a decrepitude, a simplicidade e a complexidade, o cômico e o trágico. Da mobilidade e/ou imobilidade das extremidades corporais, que os braços, as pernas, o tronco, o pescoço, a cabeça levam o performático a mergulhar na viagem corporal que conduz à poesia.
Os dançarinos do Buto quase não usam vestimentas: para eles a roupa veste o corpo e o corpo a alma. E é através da alma, das emoções, da vivência de cada que são criadas as seqüências gestualísticas que formam o Buto.
A maquiagem melancólica, o branco sobre todo o corpo, faz com que os músculos sejam realçados, e suas formas expressivas delineadas em movimentos essenciais se valorizem pela ausência de pêlos.
O Butoh recupera a vitalidade e a força do corpo, de um corpo domesticado pelas atividades cotidianas e esmagado pelas regras estabelecidas. O desenho de cada gesto é simbólico. Ele estimula idéias, associações e emoções tramando uma visibilidade: as intensidades, os afetos que atravessam os corpos, a música, os movimentos, são expressos através dos gestos. O corpo é o veículo de expressão dos elementos vitais: terra, água, fogo e ar.”
Fonte: poeticasdocorpo
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